terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Resgatando a história


A Solda

Certo fim de tarde, ao longe se avistou um homem e o menino. Aproximava-se o pôr do sol com suas cores de labareda refletindo na serra de Manoel Manso para quem quisesse apreciar a beleza. Era verão e o papa sebo e os anuns cantavam e se balançavam nos pés de avelós. Os preás saltavam das moitas de macambira, olhando para o quixó, sem saber que tais iscas os levavam à morte. Os galos de campina cantavam no pé de imburana e as rolinhas se aquietavam em seus ninhos; os gatos já miavam aguardando ansiosos o leite com angu quente. Aqueles mais espertos pulavam pela cumieira e saiam em busca de uma gorda lagartixa ou mesmo um rato para completar a ceia. Enquanto isso, o homem e o menino chegavam cada vez mais perto. Foram se aproximando, aproximando e de repente:
- Boa noite, senhor! - Disse seu Joaquim.
- Boa noite, Senhor! E entre, por favor! - Falou Hermes.
Hermes, como todos sabem, gostava de receber visitas. Ele e Arnóbio procuravam parentes e conhecidos em todos os cantos.
O senhor que acabava de chegar, foi logo dizendo que se chamava Joaquim; era de Boqueirão e ferreiro. A conversa foi longa. Bernadina e Emilia foram para cozinha e esquentaram o angu e, sem pabulagem, teve até carne assada na grelha. Hermes apontou uns dez amigos que tinha em Boqueirão; além de uma prima que lá fixou residência. Contou que trabalhou na construção do açude, cujo feito foi do governo de José Américo de Almeida, na década de 50.
No dia seguinte espalhei a notícia. Fui às Barrocas e contei a novidade de a tia Silva. Seu Amaro Borges logo se interessou pelo assunto. Foi lá em casa e demonstrou interesse em se desfazer do depósito de zinco que tinha em casa e com a sobra fazer uns candeeiros. Proposta aceita. Como o volume de encomendas foi muito grande, Hermes emprestou sua casa que estava vazia para o ferreiro trabalhar. Ele cortou o depósito de zinco de seu Amaro Borges, que servia para guardar milho e feijão. Soldou todos os candeeiros dos moradores de Serra dos Bois e fugiu. Fugiu porque sabia que à noite a sua solda não soldava. E todos os candeeiros continuaram vazando gás e seu Amaro Borges perdeu seu depósito de zinco.

Colaborador: Antonio Martins de Farias

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