segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Contos: A cabra fuxiqueira





olho da cabra  Animais

Cabeluda era uma cabra fuxiqueira. Ela era uma cabra boa de leite, dava de cinco a dez litros de leite por dia. Só que não deixava as suas companheiras em paz. Era um leva e traz daqueles. Toda noite tinha um quiproquó danado, porque Cabeluda chegava da serra e contava tudo que viu e o que não viu em relação às outras cabras. Uma vez, por exemplo, ela acusou Môchinha, uma cabra séria e muito respeitada na comunidade dos bodes, de ter se envolvido com um bode de Severino Arruda. Ora, todas as cabras sabiam que a fazenda Boa Vista faz divisa com a do Açude Novo; sendo comum encontro de bodes e cabras de outras localidades. Mesmo assim jamais se poderia acusar Môchinha de trair seu Pai de Chiqueiro, Mirinó; bode que veio da Paraíba, com fama de bom de papo e de cavanhaque cheiroso.
No mundo dos bodes não predomina a monogamia, assim sendo, um bode pode ter quantas cabras quanto quiser, mas as cabras só podem ter um Pai de
Chiqueiro ou bode. Até no mundo dos caprinos há discriminação e preconceito, como na sociedade dos homens.
Tinha noite ninguém dormiu e nem remoía os caroços de imbu que se comia durante o dia na Serra Lavrada e na Serra de Manoel Manso. No fim da tarde as cabras ficavam no Riacho da Janela comendo quixaba e só no inicio da noite é que iam para o chiqueiro. Não andavam em bandos. Primeiro ia uma e depois outra, até todas se reunirem no terreiro, para bater um papo e por as conversa em dia, ocasião que Cabeluda, a cabra fofoqueira, aproveitava para levantar falso em relação às outras. Ela, geralmente, implicava com as cabras mais velhas. Só que tinha Cabra de Canga que logo tomava as dores e lhe aplicava logo um par de chifres e Cabeluda corria para o curral, na esperança do bode lhe proteger. A briga das cabras formava um espetáculo a parte, quando um quadrúpede virava bípede e tacava o chifre uma na outra. De vez em quando os chifres se enrolavam e elas rolavam pelo chão. O Conselho das Cabras foi convocado e teve uma reunião extraordinária, na sede social, que ficava no Roçado da Janela. A sede era uma laje de pedra que ficava perto do riacho. As cabras reunidas decidiram que se Cabeluda, a cabra fuxiqueira, não parasse com as fofocas, todas iam mudar o destino de pastagem. Trocariam a manga de seu Oliveira pelo o serrote do Papagaio, pelo menos lá, se juntavam às cabras de Luiz França, estas não faziam fofoca, a não ser, de vez em quando, comer a palma do roçado de Seu João Borges.
Coisas do destino, porém mudaram todo o rumo, pois a cabra Cabeluda foi vendida para seu Elias Marcos, de Pedra Preta, que lhe vendeu na feira de Santa Cruz do Capibaribe. Deixando, assim, Cabeluda, a cabra fuxiqueira, de perturbar as cabras que não gostavam de fuxico. Diga-se que a venda de Cabeluda provocou uma tristeza profunda no mundo das cabras. Nunca mais o chiqueiro foi o mesmo sem a cabra Cabeluda.

Por: Antonio Martins de farias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário