Deus nos deu o
dom da vida e nos concedeu o livre arbítrio. Acontece que podemos abusar da
liberdade que Ele nos legou e cairmos em abismos impossíveis. Pode não existir
diferença entre o bem e o mal; apenas o destino que damos as coisas é que traz
consequência a qual definimos como boa ou má.
Mas existem os
contrários. E estes muitas vezes nos ensinam muito. Exemplo: o autor desta,
quando ainda com seis ou sete anos, perdeu um irmão. E, certa tarde, chegou a
notícia de que era preciso todos se deslocarem para Gravatá do Ibiapina, devido
ao sepultamento. Ananias, como se chamava meu irmão, foi uma criança muito
querida por todos em Serra dos Bois. Após o susto da notícia trágica, fomos ao
cercado do Roçado da Janela, pegar os jumentos para o transporte. Ao escurecer,
deu-se a caminhada. Seu Amaro Borges, e Zé de tia Luiza e Dina eram as únicas
pessoas adultas. Quando passávamos pelo Bandeira, especificamente, em frente à
casa de seu Neco Adelino, ouvimos uma sanfona. Era um baile. Perguntei a mim
mesmo: como pode eu aqui chorando miudinho e com vergonha e àquele povo alegre
dançando? Deus sabia e sabe o que faz. Chegando a Gravatá do Ibiapina, já bem
tarde, uma moça vestida de branco, tirou-me da cangalha, abraçou-me e perguntou
o que era que eu precisava. Respondi que gostaria de urinar, coisa de menino. A
moça prontamente me levou ao quintal e, consequentemente ao banheiro. Ela era
uma moça muito linda. Era baixa e muito alva, como costumávamos chamar uma
pessoa de cor branca. Passou a noite. Ao amanhecer o dia, ficamos com a certeza
de que não Nanã não voltava mais para Serra dos Bois. Era muita tristeza. Após
o enterro cada um tomou seu rumo e quando voltava para Serra dos Bois, na casa
de Pedro Lino, ouvimos os fogos no Papagaio. Era o nascimento de Ana Maria,
Balia. Assim pode existir tristeza e alegria. Interessante: quando íamos a um
enterro, uns dançavam e quando voltamos soubemos que nascia uma vida. Quer
coisa melhor do que esta?
Perguntei a
todos quem era àquela moça. Prestei todas as características, mas ninguém soube
me responder. Bem mas Deus existe e os Anjos também.
Antônio
Martins de Farias
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