quinta-feira, 17 de maio de 2012

Luiz de França Pontes

                                                                                   

                                 
Luiz é o primeiro da esquerda, era o mais velho dos dez irmãos


 Em uma tarde quente, quando a cor vermelha do sol refletia sobre as árvores tinha-se a impressão de que um fogo estava devorando o Agreste pernambucano. Esta cena acontecia próximo ao passador do roçado de seu Amaro França, quando Antônio avistava seu padrinho, Luiz França, chegando bem devagarinho, com um sorriso carinhoso raramente visto em homem nordestino. Homem este que parece fraco, em virtude da fome por causa da absoluta pobreza que leva este forte e bravo a ter cara fechada ou triste. E, muitas vezes, a fisionomia não engana e demonstra o desespero do total abandono das autoridades, mas Luiz França sempre estava sorrindo. Para ele não havia tempo ruim.
Antônio levantou-se, tirou o chapéu de palha e lhe tomou à bênção:
- A bênção, padrinho Luiz!
- Deus lhe faça feliz, filho!
Luiz França, depois de abençoar o menino frágil, triste e magro o presenteou com nota de dois reis; nota grande de cor avermelhada. A alegria do menino, por seu primeiro presente foi tanta que se esqueceu de agradecer e saiu correndo e entregou a nota à Dina, a irmã. Sabe-se, no entanto, que com estes dois reis não comprou pão, não se comprou caramelo e nem cocada. O dinheiro dado por Luiz França serviu para completar a prestação que a mãe de Antônio devia à dona Maria de seu Antônio Cumaru. É que a esposa de seu Antônio Cumaru vendia tecido, a prestação, ou como mais comum a vendia fiado.
Luiz França era uma espécie de conselheiro e ouvinte de quase todas as meninas e meninos e dos mais velhos de Serra dos bois. Ele era um sábio, um psicólogo; sabia ouvir e guardar segredo. Era num velho rádio que Luiz França ouvia todas as notícias. Após o noticiário Luiz França fazia uma síntese de todos os acontecimentos e saia contando as novidades.  Sua forma de narrar era agradável e acessível a todos. Quem não entendesse uma história contada por Luiz França não entenderia de mais ninguém.  
 Em Serra dos Bois, falando-se em política, somente Luiz França, Arnóbio e Hermes votavam em João Cleofas de Oliveira, candidato derrotado por Miguel Arrais nas últimas  eleições  diretas  para governador de antes do Golpe de 1964. Estes mesmo eleitores faziam oposição a Ereciano e Severino Arruda. Quando Antônio Andrade ganhou a eleição foi a maior festa na casa de Arnóbio. Neste tempo todo mundo se dava com Arnóbio, que só virou persona não grata, a partir do inventário de Mãe Zita.
            Luiz França era também um excelente aplicador de injeção. Toda pessoa que adoecia e ia ao médico, ou mesmo recorria aos conselhos de Pedro Farias, ou de seu Amaro Galdino, do Gravatá do Ibiapina, ou de Otavio Ramos, de Serra dos Bois, quando nas horas vagas, prescreviam injeções. E ainda prescreviam remédios homeopáticos e outras drogas ou erva medicinal para curar o povo. Graças Deus que existiram estas pessoas para salvar o povo da falta de médico e uma política de saúde pública, naqueles tempos.
É correto afirmar que Luiz França, em toda sua vida, só praticou boas ações. Luiz França namorou pouco e diz a ferina língua do povo que ele teve uma paixão, porém ninguém sabe quem foi; ninguém viu e, se viu ninguém quis falar. Muitos alegam que a paixão de Luiz França foi uma moça, que de tanto amar, de paixão morreu.
Fato é que se lembrar de Luiz França é sempre uma alegria e uma certeza de que Deus existe, pois põe no Mundo, pessoas que só fazem o bem. E esta missão Luiz França cumpriu verdadeiramente.


Antônio Martins de Farias

Um comentário:

  1. Obrigado Geraldinho por publicar a história e uma das boas lembrançs que Luiz França nos deixou.

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