Luiz é o primeiro da esquerda, era o mais velho dos dez irmãos
Em uma tarde quente, quando a cor vermelha do sol refletia sobre as árvores tinha-se a impressão de que um fogo estava devorando o Agreste pernambucano. Esta cena acontecia próximo ao passador do roçado de seu Amaro França, quando Antônio avistava seu padrinho, Luiz França, chegando bem devagarinho, com um sorriso carinhoso raramente visto em homem nordestino. Homem este que parece fraco, em virtude da fome por causa da absoluta pobreza que leva este forte e bravo a ter cara fechada ou triste. E, muitas vezes, a fisionomia não engana e demonstra o desespero do total abandono das autoridades, mas Luiz França sempre estava sorrindo. Para ele não havia tempo ruim.
Antônio
levantou-se, tirou o chapéu de palha e lhe tomou à bênção:
- A bênção,
padrinho Luiz!
- Deus lhe
faça feliz, filho!
Luiz França,
depois de abençoar o menino frágil, triste e magro o presenteou com nota de dois
reis; nota grande de cor avermelhada. A alegria do menino, por seu primeiro
presente foi tanta que se esqueceu de agradecer e saiu correndo e entregou a
nota à Dina, a irmã. Sabe-se, no entanto, que com estes dois reis não comprou
pão, não se comprou caramelo e nem cocada. O dinheiro dado por Luiz França serviu
para completar a prestação que a mãe de Antônio devia à dona Maria de seu
Antônio Cumaru. É que a esposa de seu Antônio Cumaru vendia tecido, a
prestação, ou como mais comum a vendia fiado.
Luiz França era
uma espécie de conselheiro e ouvinte de quase todas as meninas e meninos e dos
mais velhos de Serra dos bois. Ele era um sábio, um psicólogo; sabia ouvir e
guardar segredo. Era num velho rádio que Luiz França ouvia todas as notícias.
Após o noticiário Luiz França fazia uma síntese de todos os acontecimentos e
saia contando as novidades. Sua forma de
narrar era agradável e acessível a todos. Quem não entendesse uma história
contada por Luiz França não entenderia de mais ninguém.
Em Serra dos Bois, falando-se em política,
somente Luiz França, Arnóbio e Hermes votavam em João Cleofas de Oliveira, candidato
derrotado por Miguel Arrais nas últimas
eleições diretas para governador de antes do Golpe de 1964. Estes
mesmo eleitores faziam oposição a Ereciano e Severino Arruda. Quando Antônio
Andrade ganhou a eleição foi a maior festa na casa de Arnóbio. Neste tempo todo
mundo se dava com Arnóbio, que só virou persona não grata, a partir do
inventário de Mãe Zita.
Luiz
França era também um excelente aplicador de injeção. Toda pessoa que adoecia e ia
ao médico, ou mesmo recorria aos conselhos de Pedro Farias, ou de seu Amaro
Galdino, do Gravatá do Ibiapina, ou de Otavio Ramos, de Serra dos Bois, quando
nas horas vagas, prescreviam injeções. E ainda prescreviam remédios
homeopáticos e outras drogas ou erva medicinal para curar o povo. Graças Deus
que existiram estas pessoas para salvar o povo da falta de médico e uma
política de saúde pública, naqueles tempos.
É correto
afirmar que Luiz França, em toda sua vida, só praticou boas ações. Luiz França
namorou pouco e diz a ferina língua do povo que ele teve uma paixão, porém ninguém
sabe quem foi; ninguém viu e, se viu ninguém quis falar. Muitos alegam que a
paixão de Luiz França foi uma moça, que de tanto amar, de paixão morreu.
Fato é que se
lembrar de Luiz França é sempre uma alegria e uma certeza de que Deus existe,
pois põe no Mundo, pessoas que só fazem o bem. E esta missão Luiz França
cumpriu verdadeiramente.
Antônio Martins de Farias
Obrigado Geraldinho por publicar a história e uma das boas lembrançs que Luiz França nos deixou.
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