segunda-feira, 9 de abril de 2012

O medo é quem faz o bicho

 ilustração lobisomem

Na encruzilhada da estrada do Bandeira que leva ao Riacho de Santo Antônio e a de Serra dos Bois a Gravatá do Ibiapina, em frende à casa de seu Ginu, próximo à casa de Amara de Ginu, já era possível ouvir o chocalho de um animal feroz, bravio e sem muitas feições definidas.
Noite de lua cheia. E lá vem o chocalho tocando em tons rápidos e estridentes, que mesmo mocos podiam lhe ouvir ao longe. O bicho rastejava pelo chão uma espécie de perna. Só que eram muitas pernas, parecendo galhos de árvore de jurema seca, quando eram arrastadas pelas crianças em dias de fogueira de Santo Antônio, São João e de São Pedro.
Cada vez que se aproximava mais alto era o som do chocalho do lobisomem. A poeira e as pedras subiam como festim ou bandeirolas de festas de aniversário de crianças. No terreiro da casa de Amara de Ginu, o bicho olhou para cima e parou, por alguns instantes, inebriado com o cheiro do cachimbo que Amaro fumava, na janela de sua moradia. Quando chegou a porteira da casa de Dona Jacinta, as pedras batiam nas ripas, dando um estrondo como tiro de revolver, não familiar nas grandes cidades, hoje em dia.
Passando pelos avelós do corredor que ia se aproximar da terra de seu Zé Ramos, o bicho se encontrou com Adelson de Joaninha Marreiros que vinha da fazenda Açude Novo. Ele, Adelson, em suas lucubrações nem percebeu que o bicho passara por ele. Na encruzilhada que dar para casa de Otávio e para Serra dos bois já era possível ver, por ser noite de lua cheia, uma espécie de nuvem cinzenta no ar. Era a poeira que vinha do Bandeira até ali, formando uns redemoinhos como se fosse um daqueles tornados que só acontece nos Estados Unidos, em certas épocas do ano. O bicho não titubeou e seguiu para Serra dos Bois, com seu chocalho lengo tengo, lengo tengo...
Quando chegou à porteira de Pedro Lino, parou, olhou e também sentiu o cheiro das flores do pé de manga que ficava atrás da parede do açude, que por sina, nunca se permitiu ser um açude por inteiro. É que sempre ele ia-se embora; a parede do sangrador sempre se rompia em anos de invernos intensos. Em seguida, o bicho rumou em direção à casa de Aleixo Chico. Bem no pé de baraúna, ficava a porteira de Aleixo Chico; que com o vento e com o eco produzido pelo barulho do chocalho do bicho a se abriu sozinha, não dando trabalho para uma figura humana que já começava a aparecer.
Bem na curva do cercado que dar acesso à casa de Miguel e próxima à baraúna que ficava em frente da casa de Chico Aleixo, a lua foi encoberta por umas nuvens escuras. Àquela noite, que já era sinistra, ficou muito mais terrível. Chegando bem perto da porteira de Chico Aleixo e perto da casa de Amaro de Olívia, não se via nada. Só ouvia o assobiar das caiporas que vinham do Papagaio. No instante que a porteira se abriu o bicho virou à esquerda e foi em direção à casa de tio Manoel Ludugero.
Quando a lua voltou a clarear pode percebeu que não era lobisomem e sim Adélia vestida dos pés a cabeça, com um chapéu de palha parecendo um sombreiro do povo mexicano, que tangia uma jumenta, que tinha a orelha torta, devido a uma bicheira, que tocava um chocalho e carregava uma carga de palma para alimentar as vacas de pai, como disia Adélia. Assim é o medo é quem faz a mentira.

Por: Atonio Martins:

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