sexta-feira, 27 de abril de 2012

A jumenta que não morreu






A Jumenta que Não Morreu

Houve épocas que em Serra dos Bois os jumentos tinham donos. Na década de 60, uma jumenta, cujo proprietário era Theobaldo, foi dada como morta, pois em numa tarde de sol escaldante, a dita cuja foi encontrada, já em trabalho de parto; com os urubus comendo sua cria e arranhando com seus bicos malditos a pobre mãe. O local da tragédia foi a lagoa de seu Oliveira, como ficou conhecida após o fazendeiro de Surubim adquirir, em leilão, a Terra das Noventa. Noventa porque sua extensão mede noventa braças de largura; e faz divisa com as Barrocas, e, com a serra do Jerimum, ou Serra dos Aleixos. Não sabemos de quem era a Terra das Noventa, nem o porquê de sua arrematação. Seu Oliveira, fazendeiro, rico de Surubim, a arrematou e depois de muitos anos a vendeu para Otávio Ramos. Neste interregno as Noventa era uma terra sem dono. Muitas benfeitorias ficaram dentro das Noventa, por exemplo, a casa de tio Manoel Ludugero e seus barreiros, uma parte do roçado de tio Abdias, que logo de encarregou de entregar ao seu dono. A capoeira, onde hoje é o açude. Lá existia um pé de cajueiro, cujos cajus eram muitos saborosos. Existia também um pé de bonome, do qual saiam gostosas sementes, com as quais os meninos se alimentavam, ou enganavam a fome.
A tragédia levou o dono da jumenta a vendê-la para um morador de Frei Miguelinho. Este morador a tratou como devia e a dita jumenta de renovou. Teve vários filhos e um muito especial. Este jumento recebeu o nome de Borrego, por ter a cor de uma ovelha. Seu dono foi um apaixonado por ele. Borrego era tudo para seu proprietário. Borrego recebia um tratamento privilegiado, ou seja, era mais bem tratado dos que os outros jegues, especialmente os de seu João Cazé.
A jumenta preta, como nós a chamávamos todas as vezes que dava uma cria e seu dono queria que ela apartasse, ou melhor, parasse de amamentar seu filho a levava para Serra dos Bois. Enquanto ela não esquecia seu filho, chorava e sofria muito. Certa vez foi levada para o Sertão, lá com saudade da cria, abriu a porteira e fugiu. Não pode, no entanto, abrir uma porteira no caminho e teve que se embrenhar pelas terras de um rico fazendeiro. Muito tempo depois foi encontrada por um vaqueiro famoso e novamente voltou para Serra dos Bois e depois retornou para Frei Miguelinho, onde morreu de velha e seus ossos foram guardados, com todo carinho em cima de um pé de bonome para a eternidade. Assim, jumenta de Theobaldo não morreu, continua viva na memória de muita gente.
Por: Antonio Martins


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