Parece
estranho se sentir saudade daquilo que nunca nos pertenceu. Não nos pertenceu
do ponto de vista jurídico material ou econômico, mas as fazendas têm um valor
histórico e cultural que deve ser lembrado e guardado para futuras gerações. Assim,
anima-nos a relatar fatos referentes às fazendas que fazem fronteira com Serra
dos Bois.
A fazenda
Lagoa do Canto, de seu Severino Malaquias, cujo vaqueiro mor foi José Ananias
de Farias, carinhosamente conhecido por Zé Ananias, nos fez muito bem.
Ajudou-nos a construir valores que nunca se apagarão de nossas memórias. Na
fazenda Lagoa do Canto, existia, por exemplo, uma cacimba que quando nas épocas
de seca se tirava água para os animais não morrer de sede. Foi na fazenda Lagoa
do Canto, que Pe. Jonas, filho de
Taquaritinga do Norte, passou boa parte de sua infância, pois todo inverno
rigoroso na serra de Taquaritinga, obrigava aos seus moradores passar uns dias
no cariri e curtir suas belezas.
Na fazenda de
Chico Elói, mais tarde de Dr. Osair, ex-prefeito de Vertentes, também teve um
passado muito bom que, portanto, deve ser lembrado. Cada fazenda tem um vaqueiro.
Cada vaqueiro tem sua história. A fazenda de Chico Elói seus vaqueiro costumava
ser sisudos, não gostando de muita conversa ou de fazer amizade com os vizinhos;
se fechavam nas porteiras da fazenda e para eles não existia outro mundo. Como
toda regra tem exceção tivemos seu Bau, cujo nome verdadeiro deve ter sido
Severino. Seu Bau recebia todos em sua casa e sua família era muito unida.
Luzinete, sua filha, foi aluna de Silva Borges e muito amiga da família de seu
Nestor Borges. Nas épocas de São João, nós crianças íamos com nossos pais à
fazenda de Chico Elói, quando seu Bau era vaqueiro comer pamonha e dançar forró
ouvindo as rádios de Caruaru ou de Campina Grande, num velho rádio. O Autor
desta história, quando criança, chegou a tocar em seu pé de bode, ou em seus
oitos baixos, na casa de seu Bau. Só tocava uma música: Juazeiro, de Luiz
Gonzaga, mesmo assim o pessoal dançava. Seu Genésio, outro vaqueiro muito
amigo, e vaqueiro da fazenda do Poço, de seu Ismael, ex-prefeito de Barra de
São Miguel, também alegrava o povo contando boas piadas de salão. As noites de
são João em Serra dos Bois e nas Barrocas eram animadas. Cada uma com seu jeito
de ser.
A fazenda
Açude Novo dispensa comentário, pois lá morava meu amigo Abdom Pereira da
Silva, pai de Ivanildo, Iraci, Fátima, Antônia, José, Lindalva e Severino. Essa
fazenda pertenceu à família Guerra a Deda Holanda, ex-prefeito de Taquaritinga
do Norte. Sendo depois adquirida por seu Oliveira, fazendeiro rica cidade de Surubim,
PE. Seu Abdom era um amigo do peito. Gostava de cachaça e pega do boi. Aonde
tivesse uma vaquejada estaria Abdom e Ivanildo, seu escudeiro. Seu Oliveira não
gostava de gastar ou investir em sua fazenda, mas a família Arruda e Pedrosa
ajudaram muito ao povo de Serra dos Bois, Pedra Preta, Jerimum e sítios
vizinhos, pois contratavam permanentemente trabalhadores para fazer cerca e
carvão, limpar barreiros e construir açudes. Assim todos, de certa forma,
contribuíram para se ter uma vida digna e honrada, pautada no trabalho e na
honra do povo.
Vaqueiros
históricos passaram pela fazenda Boa Vista, de Severino Arruda. Odílio Borges, e Sebastião Cocó e seus filhos.
Já a fazenda Lajedo, de seu Agnelo Pedrosa, teve um vaqueiro famoso chamado
Augusto Ferraz, o homem a quem o boi Mulatinho obedecia. Restando a fazenda
Maniçoba onde o mestre Alfredo Borges da Costa, fez sua história.
De vaqueiro e
fazenda não falamos de todos, mas valeu pela lembrança de tantos personagens
que nunca morrerão e nem sairão de nossas mentes.
Antonio
Martins de Farias