sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Amor Secreto




A noite começava; o bacurau expunha sua cor e pulava de canto a canto da vereda. As caiporas assobiavam e as muriçocas soltavam suas zoadas. A esta altura, os galos de campina já pernoitavam nos galhos de avelós e sonhavam com o clarear do novo dia mais alegre, ou seja, com um roçado cheio de covas de milho, sem a presença de um menino para bater lata e espantá-lo. É que o malvado galo de campina e o xexéu não deixam uma cova de milho em paz. Eles com seus bicos afiados arrancam uma a uma para comer o milho ou o feijão plantado. No entanto, estão perdoados, pois só o canto do galo de campina encanta a vida. Sem o galo de campina o nordeste seria uma Roma sem o Coliseu, o Rio de Janeiro, sem o Pão de Açúcar e o Maracanã, ou seja, não tinham tanta beleza. Ou ainda o Piauí sem o Rio Parnaíba.
Os papagaios, que voavam de um lugar para outro, indo e voltando das serras e dos serrotes da fazenda de seu Agnelo Pedrosa. Ao anoitecer e ao amanhecer as aves verdes e falantes passavam voando e cantando por Serra dos Bois, inquietando o juízo do menino que gostaria de saber onde ficava a casa dos papagaios. Parecia que eles moravam no Bandeira, ou no serrote de Mãe Zita, onde juntamente com os mocós davam um ar alegre àquele lugar.
Assim ia-se levando a vida. Bastando para tanto um café bem forte, um cigarro de palha ou cachimbo para se tirar um trago. Quando o fim de semana chegava corria-se para o Jerimum, pois lá era certo que tinha um forró.
De forró em forró Theobaldo Farias encontrou sentido para sua vida pacata que levava nos campos de Serra dos Bois. Certa vez, quando chegava ao Jerimum Theobaldo, com seu sexto sentido, logo pensou e falou para seu amigo Leôncio Matoso:
- Hoje, Leôncio, eu arrumo uma namorada.
Passava o jovem Theobaldo Farias e o solteirão Leôncio Matoso, pela casa de seu Raimundo Gomes, no sentido de Serra dos Bois ao Jerimum. E Leôncio Matoso, com seus 50 anos, solteiro e virgem que nunca namorou, começou a rir. E só quando passavam perto da casa de seu Aniceto é que Theobaldo Farias se irritou e respondeu ao seu estilo.
- Por que você rir de mim, se nunca arrumou uma namorada?
Leôncio Matoso, que não tolerava perguntas relativas à sua vida  íntima não gostou e partiu para o ataque:
- Isso não é de sua conta. Eu não arrumei namorada alguma porque não quis e isso é uma questão que diz respeito somente a minha pessoa e você não se meta aonde não foi chamado.
Prosseguiu o solteirão.
- Não arrumei namorada, na opinião do povo mau falador de Serra dos Bois e de Gravatá do Ibiapina. Gravatá do Ibiapina, porque todo mundo de Serra dos Bois tem origem em Gravatá. Só que ninguém sabe que eu amei e amarei para sempre o único amor de minha vida. Só eu e ela é que sabemos da existência de nosso amor secreto.

Os dois amigos chegaram à vila do Jerimum e na bodega de Ismael de João Nogaia Leôncio Matoso terminou de contar sobre seu amor, após uma boa dose de conhaque.

- É que seu pai de minha amada era homem rico e importante da região não permitiria que ela se casasse comigo, um pobre e com a calça rasgada. E para não fazê-la sofrer fizemos um pacto: nós nos amaríamos para sempre, pois para se amar não é preciso se casar ou se viver juntos. O verdadeiro amor é àquele que nos alimenta, nos completa e nos deixa viver sem mágoas ou rancores. A vida não comporta os que não compreendem o que é amar.

Emocionado Theobaldo Farias voltou para casa, não foi mais ao forró e procurou viver como um ermitão, só que se esqueceu de que para amar é preciso ter um amor, mesmo secreto como o amor de Leôncio Matoso.
Por: Antônio Martins de farias



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