terça-feira, 10 de julho de 2012

O Bode Pajeú




Um morador de Serra dos Bois gostava de novidades e certa vez resolveu criar cabras raçadas, cabras de orelhas grandes. Na inauguração do grupo escolar do Riacho Doce, ele pediu um bode emprestado ao senhor Frascisquinho Heráclito, sendo prontamente atendido.
  Na sexta-feira seguinte o tomador do bode emprestado foi ao Gravatá do Ibiapina e trouxe o caprino para Serra dos Bois. Logo constituiu Theobaldo como depositário fiel do tal bode. À noite, cansado da viagem que fizera, de aproximadamente, três léguas, ou dezoito quilômetros, o animal não quis saber das cabras, no chiqueiro. Não se ouviu um só bodejar do animal à noite. As cabras logo desconfiaram do novo marido.
Mochinha, uma cabra preta, que fora emprestada por João Joaquim para criar Theobaldo, já era uma cabra velha; uma coroa cabra, ou uma cabra coroa. Tenha naquela época uns 15 anos, mas ainda dava seus pulinhos, mesmo não sendo milho de pipoca.
O bode era bonito; de cor variada. Era um bode lavrado, cheio de cores brancas e vermelhas, parecia que imitava as camisas do Bolinha, àquele que animava programas de auditórios, nas décadas de 70 e 80, do século passado.
No rebanho tinha cabras de todas as cores e tipos e umas jeitosas; outras muito feias. Mesmo assim Pajeú, o bode, foi logo dando conta do recado. Marreca, uma cabra de cor roxa, era uma cabra muito jeitosa; de origem paraibana, muito boa de leite. Ela fora emprestada por Silva Borges para criar a irmã mais nova de Theobaldo. Pajeú logo se aproximou dela e em poucas horas já namoravam. Marreca foi logo dizendo às amigas que Pajeú era gostoso e cheio de charme. Isso criou um clima de ciúmes e muitas brigas; só ouvia chifre com chifre. Mochinha, a mais velha entrou na briga para separar as brigonas. Deu um berro e foi logo dizendo:
-Minhas amigas cabras, Pajeú não é de nenhuma de nós. Ele é de todas ao mesmo tempo. É como o galo que é marido de todas as galinhas e só canta no poleiro quando não tem raposa por perto. Quando a raposa chega ele é o primeiro a correr. Assim é Pajeú.  Eu sou a mais velha e já tive muitos bodes na vida. Teve Mirinó, que era um rapaz alegre e só queria saber dos cabritos e fiquei na pior. Quem me salvou foi o bode de Arnóbio.
 As cabras de acalmaram. Cabeluda que era uma cabra muito boa de leite e experiente foi a única que não teve problemas com Pajeú e manteve a linha. Afinal, era uma cabra elegante, firme e até sabia andar de pata alta, para não dizer sapatos. Cabeluda era tão boa que sabia andar de pata alta. Os bodes não tinham problemas com ela.
Passado alguns meses e nada de nascer cabrito de orelhas grandes. Só nascia cabrito com as orelhas pequenas. Assim se ficou sabendo que Pajeú não emprenhava as cabras, mas sim um bode preto de Arnóbio. Com raiva, Após isso Pajeú foi devolvido ao Cicero, antigo vaqueiro de seu Frascisquinho Heráclito. E nunca mais viu as cabras de Serra dos Bois. Deve ter sentido muita saudade, pois quando ele foi embora prometeu que voltava e nunca mais voltou.

Por: Antonio Martins de farias.






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