Um morador de
Serra dos Bois gostava de novidades e certa vez resolveu criar cabras raçadas,
cabras de orelhas grandes. Na inauguração do grupo escolar do Riacho Doce, ele
pediu um bode emprestado ao senhor Frascisquinho Heráclito, sendo prontamente
atendido.
Na sexta-feira seguinte o tomador do bode
emprestado foi ao Gravatá do Ibiapina e trouxe o caprino para Serra dos Bois.
Logo constituiu Theobaldo como depositário fiel do tal bode. À noite, cansado
da viagem que fizera, de aproximadamente, três léguas, ou dezoito quilômetros,
o animal não quis saber das cabras, no chiqueiro. Não se ouviu um só bodejar do
animal à noite. As cabras logo desconfiaram do novo marido.
Mochinha, uma cabra
preta, que fora emprestada por João Joaquim para criar Theobaldo, já era uma
cabra velha; uma coroa cabra, ou uma cabra coroa. Tenha naquela época uns 15
anos, mas ainda dava seus pulinhos, mesmo não sendo milho de pipoca.
O bode era
bonito; de cor variada. Era um bode lavrado, cheio de cores brancas e
vermelhas, parecia que imitava as camisas do Bolinha, àquele que animava
programas de auditórios, nas décadas de 70 e 80, do século passado.
No rebanho
tinha cabras de todas as cores e tipos e umas jeitosas; outras muito feias.
Mesmo assim Pajeú, o bode, foi logo dando conta do recado. Marreca, uma cabra
de cor roxa, era uma cabra muito jeitosa; de origem paraibana, muito boa de
leite. Ela fora emprestada por Silva Borges para criar a irmã mais nova de Theobaldo.
Pajeú logo se aproximou dela e em poucas horas já namoravam. Marreca foi logo
dizendo às amigas que Pajeú era gostoso e cheio de charme. Isso criou um clima
de ciúmes e muitas brigas; só ouvia chifre com chifre. Mochinha, a mais velha
entrou na briga para separar as brigonas. Deu um berro e foi logo dizendo:
-Minhas amigas
cabras, Pajeú não é de nenhuma de nós. Ele é de todas ao mesmo tempo. É como o
galo que é marido de todas as galinhas e só canta no poleiro quando não tem
raposa por perto. Quando a raposa chega ele é o primeiro a correr. Assim é
Pajeú. Eu sou a mais velha e já tive
muitos bodes na vida. Teve Mirinó, que era um rapaz alegre e só queria saber
dos cabritos e fiquei na pior. Quem me salvou foi o bode de Arnóbio.
As cabras de acalmaram. Cabeluda que era uma
cabra muito boa de leite e experiente foi a única que não teve problemas com
Pajeú e manteve a linha. Afinal, era uma cabra elegante, firme e até sabia
andar de pata alta, para não dizer sapatos. Cabeluda era tão boa que sabia andar
de pata alta. Os bodes não tinham problemas com ela.
Passado alguns
meses e nada de nascer cabrito de orelhas grandes. Só nascia cabrito com as
orelhas pequenas. Assim se ficou sabendo que Pajeú não emprenhava as cabras,
mas sim um bode preto de Arnóbio. Com raiva, Após isso Pajeú foi devolvido ao
Cicero, antigo vaqueiro de seu Frascisquinho Heráclito. E nunca mais viu as
cabras de Serra dos Bois. Deve ter sentido muita saudade, pois quando ele foi
embora prometeu que voltava e nunca mais voltou.
Por: Antonio Martins de farias.
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