terça-feira, 20 de março de 2012

Grandes nomes da nossa história


Tio Floro e Tio Manoel

Temos uma foto de dois tios: Floro e Manoel, filhos de Ludugero Aleixo Porto de Mãe Zita. Na velhice ambos ficaram parecidos, apenas fisicamente. Porque tio Manoel, ou como comumente os chamávamos ti Manoel e ti Floro foram duas pessoas bem diferentes. O primeiro era um vaqueiro e gostava de montar em suas éguas e sair campeando pelas matas; enquanto ti Floro gostava mesmo era de um bom cigarro e muito café. Sua arma sempre foi a enxada e o seu roçado; de onde sempre tirou seu sustento. Te Floro, na juventude foi um grande carreiro; profissão extinta com o advento do caminhão e o fim dos carros de boi. Viveu no sul de Pernambuco em virtude da plantação de cana. Morou por algum tempo em Camocim de São Felix e em Sanharó. Casado com Dona Nina Duda. Ela enviuvou ainda muito jovem e em segundas núpcias se casou com ti Floro. Tiveram um filho, Jorge, que até hoje mora em Serra dos Bois e constituiu uma linda família. Jorge é uma pessoa muito amada por todos e quem não gostar dele não gosta nem de si mesmo. É casado com Eva, filha de Ludugero França, que também é de Serra dos Bois e é personagem muito amada também. Jorge morou no Rio de Janeiro, onde trabalhou no Edifício Dílson Câmara, tendo como chefe seu Elias Amâncio, natural de Frei Miguelinho e como companheiro de trabalho Antônio de Hermes. O único defeito de Jorge foi não ter namorado nenhuma carioca. Corria um boato de que ele trazia no bolso uma lista, feita por Dona Nina, das pessoas com as quais ele podia sair. E o único da lista era nosso saudoso Antônio Ananias de Farias, casado com nossa saudosa Mercês pai de nosso primo Joel Antônio de Farias. É nosso querido tio era cobra criada.
Quanto a tio Manoel sou sei que ele foi casado com Dona Aurea e teve muitos filhos, sendo que a maioria foi morar no sul pernambucano e não os conheci direito. Apenas com Adélia e Native tivemos mais contato.
O autor desta história, quando menino era emprestado para dormir na casa de tio Manoel por inúmeras vezes e se lembra de que ele era muito bom, pois Adélia fazia apenas um prato de angu e na hora da ceia tio Manoel partia este prado de angu e um pedaço de rapadura. Antônio, assim ceava duas vezes: uma em casa e na casa de tio Manoel. Tio Manoel dormia muito cedo e acordava de madrugada para espantar os passarinhos que arrancava o milho que ele plantava.
Escrever sobre a vida de tio Manoel e tio Floro enche de alegria, pois tornamos duas pessoas muito importantes e inesquecíveis para todos. Todo homem pode ter defeito e ser bom, só não pode esquecer-se de seus antepassados.

Por:Antônio Martins de Farias

sexta-feira, 2 de março de 2012

O Cavalo Mais Rápido do Mundo



Em Cacimba de Baixo, seu Tezinho nasceu; se criou e teve seus filhos deixando uma linda descendência. Era um excelente carpinteiro, mas em sua juventude aprendeu a ouvir e contar casos ou estórias. Em suas belas narrativas ele relatava a respeito de um cavalo. Este animal era o mais rápido do mundo. Devido a tantas dúvidas a respeito da velocidade daquele animal foi preciso se formar uma comissão para se descobrir quem corria mais: o cavalo da estória de seu Tezinho ou um tiro de rifle. E, para se certificar da rapidez do animal, a tal comissão não se conformou com um rifle comum; tinha de ser o rifle de ouro do cangaceiro Antônio Silvino.
Tiveram sorte os membros da assembleia, pois o homem do rifle de ouro se encontrava escondido dos “macacos”, na Serra do Pará e resolveu ir até Serra dos Bois encontrar-se com seu amigo Ludugero Aleixo. O caminho de tal trajetória obrigatoriamente o levava a passar por Cacimba de Baixo.
Em uma bela manhã setembrina onde as flores de mofumbo exalavam seu cheiroso perfume que se misturava ao cheiro das flores de canafístula; onde os besouros “Cavalo de Cão”, ou mangangás faziam seus suados ensurdecedores. Também o anum fazia seu ninho e com seu canto prenunciava o mal á sombra da árvore de flor amarela, que com seus cachos embelezava a natureza árida do sertão. À beira do riacho existia um grande pé de juazeiro em cuja sombra reuniram os membros da comissão. Cada um com seu cigarro de palha ou cachimbo de barro deram início a discursão a respeito da tal decisão de convidar Antônio Silvino a dar um tiro emparelhado com o cavalo mais rápido do mundo. Deus escreve certo por linhas tortas, é um dito popular muito utilizado ainda na região Nordeste. Qual não foi a surpresa: olharam em direção ao norte e avistaram Antônio Silvino e seus capangas.
- Bom dia, senhores!  - Falou o cangaceiro.
- Bom dia Senhor!
Uns tremiam de medo e outros buscavam introduzir um diálogo com o cangaceiro. E, entre um cigarro e outro contaram o propósito de tal reunião. Antônio Silvino aprovou desde que fosse numa reta. Marcaram para ser em frente de uma casa grande, que ficava perto do riacho. Após ser bem recebido e tomar um bom café da manhã, comendo cuscuz, com rapadura ou mel de uruçu, carne de sol assada na grelha e tomar um bom café, plantado e colhido à sombra dos pés de jaca na Serra do Brejo, de nossa querida Taquaritinga do Norte.
Após o almoço, vamos assim dizer, ficou definido que o marco era um pé de baraúna que existia a cerca de mil metros de distância do terreiro da fazenda. Emparelharam-se os dois: Seu Tezinho montado em seu cavalo e Antônio Silvino com seu rifle de ouro. Foi escalado um vaqueiro para dar o sinal do disparo da bala e do cavalo. O vaqueiro gritou!  “pronto”! Neste instante só se ouviu o tiro e o disparo do cavalo. Acontece que quando seu Tezinho chegou embaixo do pé de baraúna precisou esperar uns dois segundos para ver a bala furar o tronco da árvore. O cavalo foi mais rápido do que a bala do rifle de ouro. Quem não acreditar pergunte a Antônio Silvino.

por:Antonio Martins

O Homem do Caldo


Caldo de Feijão


O Homem do Caldo
 Cacimba de Baixo, pertence ao município de Santa Cruz do Capibaribe. Fica mais ou menos perto da vila do Pará e de Barra de São Miguel. Neste lugar existiu um ser humano maravilhoso. Ele deixou muitos filhos e admiradores em diversos lugares por onde andou. Era carpinteiro, a mesma profissão de São José. O homem de Cacimba de Baixo gostava de caçar; andava sempre com uma espingarda e atirava bem. Matava muito mocó, nos serrotes de Serra dos Bois e por onde passava. Ele possuía dois sítios no brejo: um em Mateus Vieira e outro, um pouco mais para dentro da serra. No primeiro só plantava mandioca e, no segundo, plantava bananeiras e muitas árvores que davam bons frutos; como manga, cajá e caju.
O homem de Cacimba de Baixo não gostava de andar a cavalo. Ele só andava a pé. Parecia que nunca foi vaqueiro. Andava por todos os cantos fazendo porteiras, cangas de boi; até caixão de defunto ele fazia.
Em Pedra Preta hospedava-se na casa de Zé Manoel e em Serra dos Bois na residência de Hermes.  Em certa ocasião foi convidado por Hermes, que era seu amigo, para ir ao sertão fazer umas porteiras. No caminho, ou seja, no sítio Cachoeiras, de Barra de São Miguel, conheceu a família de dona Neném de Jota e por lá ficou por muito tempo fazendo porteiras e reparando as portas dos moradores vizinhos. Um belo dia, à tarde, chegou seu Tezinho, tangendo uma burra com arreio completo. Como ele ia à Cacimba de Baixo e não gostava de andar montado, seja em que animal fosse, convidou o autor desta história para ir com ele. Foi uma das viagens mais felizes que este autor já fez em sua vida. Saíram de Serra dos Bois logo após o jantar, isso por volta das duas horas da tarde. Passaram pelo Jerimum e por diversos lugares. Atravessaram a fazenda de Sinésio Cavalcante; a estrada que vai de Barra de São Miguel para Santa Cruz do Capibaribe. Andaram e andaram. Lá por volta das oito horas chegaram à bela casa de seu Tezinho. A filha dele era crente e se encontrava na igreja, participando do culto noturno. A casa estava fechada, mas o cachorro, como diz a música de Roberto e Erasmo Carlos, “nos sorriu latindo”. Pouco depois chegou um menino, que carinhosamente lhe tomou à bênção. Seu Tezinho ordenou-lhe que fosse chamar sua filha para fazer a ceia para nós. Após o jantar ele armou duas redes e fomos dormir. Quando o dia amanheceu ele visitou todos dos moradores de Cacimba de Baixo Á tarde, fomos assistir ao jogo de futebol entre amigos. Só não fomos ao culto, cujo pastor era o irmão Severino, filho de seu Tezinho.
Resumindo a história, seu Tezinho era conhecido em Serra dos Bois, conheciam, porém não sabiam que ele só comia o caldo do feijão. E, segundo seu depoimento, foi um dos melhores vaqueiros e possuiu o cavalo mais rápido da região.

por: Antônio Martins