segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O baile de Dona Jacinta


Passeando pelo Bandeira encontrei Adelino que me disse:
- Moço vá à casa de Jacinta, no próximo sábado, que terá um sanfoneiro animando uma festa. Se não houver briga vamos dançar a noite toda. Traga sua cabrocha que mulher daqui não dança com quem é de fora. Nesta festa só não vai Du Santo, que como o nome diz é muito católico e parece que não gosta de dançar.
Na festa estavam seu Amaro Inácio, seu Zé Macambira, Seu Miguel Severino e Doda Bernadino. O Bandeira estava em festa neste dia. Só faltou seu Ginu.
Na festa, dançava todo mundo: Felipe com sua esposa; Seu Bernadino com dona Raimunda e Neco Adelino. João Adelino dançava dom dona Josefina e Cosme com sua esposa. Antônio de Sinésio com Olivia Ramos.  Só faltava Damiana que chegou mais tarde com seu Biu Quinca, mestre em por cabo em enxada, foice e machado da região. Faltou Amaro de Ginu. De Pedra Preta veio Zezé João e seu Paizinho.
Seu Izidio só apareceu bem tarde. E quando chegou já estava quase embriagado e por causa disso tentou acabar com o forró. Puxou de uma peixeira e foi logo dizendo:
- Aqui, caboco, ninguém dança enquanto não se tomar uma pinga, das boas, que eu mandei buscar na Bonita. Bonita era como se chamava Alcantil. Lá tinha uma pequena bodega e vendia até “cachaça de cabeça”. Mesmo que o responsável pelo botequim fosse Zuzinha de Pedra Preta.
Com o alvoroço o fole parou. Dona Jacinta, dona da festa, que estava na cozinha fumando um cachimbo de barro, veio pra sala e logo perguntou o que aconteceu. Ocorre que a esta altura o sanfoneiro, já se encontrava a beira da estrada, escondendo sua sanfona, com medo de que um bêbado malvado, com uma peixeira, rasgasse-se seu instrumento de trabalho – a sanfona, amada por todos.
 Era um instrumento velho, com alguma tecla bem desgastada e um pouco desafinada, porém com o barulho do triângulo, da zabumba e do pandeiro não se percebia o tom desafinado. Todo mundo estava mesmo era preocupado com o cheiro do cangote da cabrocha e com o namoro que nascia e se acabava também.
Dona Jacinta, parteira e mãe de todos os que nasceram no Bandeira foi logo dizendo:
- Izidio, quem manda aqui sou eu e se tu queres acabar com o baile que o faça em tua casa. É, na tua casa, que os forrós têm fama de se acabar quando os garotos de Serra dos Bois vêm jogam pelo de jegue ou de gato pelo chão; provocando um mau estar nas pessoas que em poucos minutos não conseguem dançar de tanto coçar o nariz. Izidio obedeceu à Jacinta e forró recomeçou.
Era noite de lua cheia. De Céu azul e com muito vento. Vento frio que chegava da Serra do Jaburu, trazendo um olor ou cheiro de flor de café. Neste momento quem morava nas redondezas podia ouvir o som da sanfona e correr ao Bandeira, pois sabia que podia dançar a noite inteira.
Pouco tempo depois chega o compadre José Agostinho, mas conhecido como Zé de Olívia. Este amigo de todos chamou uma cabrocha e dançou a noite toda, só voltando à Serra dos Bois, lá pelas quatro horas da madrugada para tirar o leite das vacas de Aleixo Joaquim. Também estava na festa Adelson de Joaninha Marreiros. Este não dançava, pois ele gostava das mulheres, entretanto, as mulheres nunca gostavam dele. Tinha Zé Marreiros, seu irmão e namorador que dançou a noite toda também. Em pouco tempo chegava para o baile Manoel de Lulu. Manoel era um poeta e grande amigo de todos. Estava na festa Maria Clara, Gorete e Ivonete. Luzinete que namorava o sanfoneiro era única que não dançava. Estavam presente também Geraldo de Arnóbio, Abidon e Ivanildo.  Nesta noite, também veio de Gravatá Biu Cocada, Gino e Flor. Foi uma festa medonha e ninguém acabou. Só não entendi porque quando eu ia dançar o despertador tocou e era dia de trabalhar. O baile de dona Jacinta foi um sonho que não devia nunca acabar.


Antônio Martins de Farias

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