terça-feira, 26 de julho de 2011

A história, por quem a conhece


MODELO DE MARIDO: SEU ELIAS MARCOS
 
Seu Elias Marcos foi o maior comprador de bode de Pedra Preta e irmão de Zezé João, o maior galanteador que este amado sítio plantou; só perdia para Zui, que seu Zé Antonio criou. Pedra Preta é sagrada, pois teve Céu como símbolo da religião, onde todo mês de maio, quem viveu rezou, A novena de Céu fez história. Todo mundo conhecia a fama daquela que só viveu para rezar a São José e Nossa Senhora. Dona Boaventura foi o esteio de todo esse amor. E quem lá, fez farinha testemunhou.

Seu Elias Marcos era um modelo de marido, pois andava de braços dados com dona Maria, sua esposa. Gesto raro nos tempos passados. Pode ser que seu Elias Marcos, por algum tempo, parecia uma pessoa pobre financeiramente, entretanto fora o mais rico em se tratando de amor. Amor é uma riqueza que ninguém a herda, porém pode servir de exemplo para se viver mais feliz e não morrer de tristeza.

Elias para se casar a moça furtou; fato comum na nossa terra. Aonde até os galos sabem quando uma moça vai fugir. Deve valer ainda, mesmo nos tempos de internet e dos celulares, que os galos são os anunciadores de um novo tempo, quando cantam na hora da ceia, anunciam que uma moça irá fugir.

No nordeste quando a filha começa a namorar a mãe logo diz:

- Filha, larga este traste, ele é um bunda rasgada. Ele é pobre, não tem condições de lhe dar uma vida digna. Ele não tem futuro. Você tem que arrumar um homem da família de Severino Arruda; de seu Ismael; ou um Sampaio. Você precisa arrumar um homem que conheça o mundo; não este trapo que nem conhece Caruaru ali, bem pertinho.

E a filha apaixonada, que nada enxerga; só sente o amor, responde:

- Mãe, homem rico não casa com moça pobre. Eles só querem se aproveitar da gente. Veja o caso de Nestor Farias! Cada moça que se envolvia com ele ficava buchuda. Só, em Serra Branca, deve ter mais de duzentos filhos dele. E as tristes que se aventuraram com ele, acabaram amancebadas com soldados e cabos de polícia de Caruaru ou de Campina Grande. Umas foram morar nos cabarés e outras nas cercanias das cidades onde não têm casa, nem o que comer.

O ato de fugir era solene, pois quando um rapaz decidia roubar uma moça para se casar a primeira coisa que fazia era convidar três pessoas de elevado respeito para ir com ele buscar a futura esposa. Combinavam que sempre à noite, iam a cavalo ao encontro da moça. Deve ser daí que nasceu a ilusão de que o príncipe vem montado em um cavalo branco, como nos é contado nas histórias de princesas,

Levava-se a moça à casa de uma família de respeito. Lá ela adquiria um novo pai, acontecia uma doação às avessas. O novo pai, a partir daquele momento, era o homem que a moça roubada devia respeitar até o casamento.

No dia seguinte a noticia se espalhava rápido:

- A filha de fulano fugiu com Sicrano. Ainda não se sabe para  onde foi. Só se viu o rastro dos cavalos em direção da Barra de São Miguel, Devem ter ido para o Sertão. Estão até dizendo que foi Jeová, genro de Ananias Marcos do Carro Quebrado, que veio buscar a santa criatura.

Jeová era morador do sítio Carro Quebrado, no município de São João do Cariri, hoje, deve pertencer à Caraúbas ou ao município de São Domingos do Cariri. Jeová possuía um patrimônio de honestidade que o habilitava a ser guia do amor.


Geralmente os noivos não iam muito longe. Ficavam por perto. Ao redor, talvez com saudade de casa ou com medo da loucura que fizeram. Passado o susto e o medo a pessoa que servira de guia do amor ia até a casa do pai da noiva e solenemente lhe comunicava:

- Seu Fulano, sua filha está em minha casa e de lá só sairá depois do casamento. E, ainda, devo acrescentar que na minha casa manda  eu e não se atreva a tentar tira-la de lá.

- Tá certo, agora diga àquela deserdada que nuca mais seu pai quer vê-la.
E a mãe, sentada no tamborete, tira o cachimbo da boca, cuspindo no chão começa sua ladainha dizendo:
- Tanto amor que dei àquela ingrata que, agora, me mata de vergonha! Nunca mais terei coragem de botar o pé na rua, ou melhor, no mato, pois aqui não tem rua, só em Gravata é que tem estas coisas e no Jerimum ainda se cria. O que vão dizer os vizinhos? Que vergonha!

O dia do casamento é uma festa, mas sem a presença dos pais da noiva que só voltam a falar com a filha nove meses depois quando nascer o primeiro neto ou neta. São avós e padrinhos e felizes para sempre, como nos filmes.

Bem, não se sabe se com seu Elias foi assim, mas sabe-se que o amor que ele sempre dedicou a sua esposa é digno de admiração e assimilação. Se todos os maridos fossem como seu Elias Marcos não precisava da Lei Maria da Penha, pois este homem, pobre, simples e honesto foi e será o símbolo do verdadeiro amor e de homem que o Brasil precisa educar ou inventar. Observação: seu Elias e dona Maria, foram os pais do grande poéta Joãozinho aboiador.

Por:Antônio Martins de Farias   

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