segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Prato de Pirão e a Eleição


 

Antigamente o dia da eleição era uma festa. Em Gravatá do Ibiapina existia duas facções políticas. Era esta bem dividida. De um lado se postava o grupo de Zé Pereira e Antonio Cumaru, de outro o grupo de seu Mocinho, Amaro Galdino e Rozendo Leandro, mas tarde aparece a liderança de Naelson Pessoa.
Na minha família havia uma divisão política que causava, às vezes, alguns desentendimentos passageiros, mas que acarretavam prejuízos irrecuperáveis. A exemplo: tia Nina era eleitora de Miguel Arraes e o resto da família eleitora de João Cleofas. No dia da eleição, os eleitores de Cleofas eram autorizados a almoçar no Hotel de Elói. Dizia-se que teria carne de boi a vontade. Saímos de Serra dos Bois para Gravatá do Ibiapina, num caminhão velho e ansiosos para comer carne, produto raro na casa de pessoas com poder aquisitivo baixo. Acontece que no Hotel de Elói, neste dia, o que nos foi servido foi um feijão queimado. A carne de boi não apareceu. Depois do feijão queimado fomos tomar café com pão na casa de tia Luiza.
Como a rivalidade política era grande, não se podia descer muito à rua em direção à casa de Zé Pereira nem da casa de seu Antonio Cumaru, porém menino tinha, naquele tempo, carta branca para transitar por todos os lugares. Daí, entramos na casa de seu Antonio Cumaru. E, para nossa surpresa a cozinheira era tia Nina. Ela quando nos viu mandou-nos que sentássemos no funda da casa, ou melhor, do quintal. Em poucos minutos tia Nina trouxe um prato de carte e muito pirão para nós.
Papai e mamãe votaram e perderam a eleição, pois João Cleofas não ganhou, mas eu ganhei um prato de carne e outro de pirão que valeu por muitas eleições.

Antonio Martins de Farias:


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