quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O vaqueiro encantado


 

Sobre a sombra da imburana o velho vaqueiro, experiente, vestindo o gibão e com o ouvido preparado para ouvir o chocalho da vaca velhaca que se recusa a ir ao curral, à noite em épicas de chuva, ouviu o choro de uma criança.
  Árvore da família das burseráceas, a imburana cresce sem ser perseguida pelos lenheiros ou fazedores de carvão. Adquire uma espécie imunidade concedidas pelos lenhadores, assim como à cauã que é protegida pelos caçadores. Nenhum caçador mata uma ave desta espécie, pois quem a mata recebe, de imediato, o castigo de Deus; quando se atira nesta ave, ela, ao receber o tiro, voa em direção do projetil e, gemendo aos pés do atirador, o algoz, segundo uma das lendas.
À sombra da imburana Theobaldo, solitário e oprimido por um pai insensível que, à tardinha o fez ir à serra em buscas das cabras que quando chove preferem às locas de pedras ao chiqueiro. Theobaldo, medroso tinha medo de caiporas e de almas penadas. Este medo se apossou dele devido a sempre ouvir as lorotas de seus irmãos mais velhos. Irmão mais velho só serve para assombrar os mais novos e ensinar coisa que não presta.
Num destas idas e vindas a serra apareceu um vaqueiro que encorajava Theobaldo e lhe ensinava muitas coisas. Primeiro ele disse ser do Rio Grande do Norte. E seu cavalo era castanho e o chocalho que carregava na sela tinha a correia bem macia como se tivesse passado sebo. O freio compunha-se de uma brida branca e com detalhes que só um bom fazedor de arreio sabia fazer; e o estribo da sela era de madeira. O par de esporas era amarelo, como ouro e com suas rosetas bem afiadas. O cavalo não parecia necessitar de espora para correr atrás de um boi, pois parecia inquieto, roçava o chão e fungava convidando para uma carreira na caatinga, atrás de um boi.
Poucos metros dali avistavam-se as vacas de Arnóbio e um garrote de Otávio Ramos cruzando com as cacas de Pedro Lino. Passava na estrada Abidon, em sua burra que lhe levara à feira e lhe trazia de volta à fazenda do Açude Novo.
  O vaqueiro que não quis dizer seu nome, mas disse a Theobaldo que ele nunca ia ser um vaqueiro, mas que seria uma pessoa que seria feliz a depender de suas ações. E que o mundo era sua morada. Assim Theobaldo vive pelo mundo buscando resposta a muitas perguntas que os homens não lhe responderam.
Este vaqueiro ainda deve estar correndo atrás de boi na serra, é um vaqueiro encantado que só Augusto Ferraz pode vê-lo. 

Por: Antonio martins 

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