Toda primeira
sexta-feira de cada mês era a mesma coisa. Acordava-se, bem cedo, às seis
horas, pegava-se o jumento que ficava no cercado ou amarrado à beira do roçado.
Depois, tomava-se o café acompanhado de batata doce, comprada de Pedro Lino,
que possuía um açude e em sua vazante colhia batata, feijão e outras verduras.Vendia
os legumes por alguns tostões, mas os vendia. Ganhar dinheiro para Sancha era
uma questão de honra.
Punha-se a cangalha com
um par de caçuá ou a sela no jumento; seguia-se para Gravatá do Ibiapina. No
Bandeira começava a festa. Todo mundo à estrada; no mesmo rumo; na mesma
direção; com o mesmo desiderato: assistir à missa, às dez horas, celebrada pelo
padre de Taquaritinga do Norte. Às vezes, levavam-se as crianças para o
batismo, com medo de que elas morressem pagãs.
Era tanta
gente que dava para ouvir o eco dos chinelos atrás das cercas de avelós. Às
nove horas, entrava-se em Gravatá. Era tanta gente que parecia um enterro ou
uma procissão. Cada pessoa ou família tinha uma casa para se hospedar;para lavar
o rosto e trocar os chinelos por uma sandália mais nova e, às vezes, mudar de
roupa, ou tirar da bolsa a mantilha a ser usada na hora da missa. Todas as
senhoras usavam uma mantilha para assistir à missa! Era bonito.
De repente
ouvia-se um barulho de um motor. Era o Jeep do Padre. O motorista quando
chegava mais ou menos na metade de Gravatá do Ibiapina passava uma primeira, forçando
o motor e subia a ladeira;indo parar em frente à igreja. Alguém, de plantão, toca
o sino. Começava a correria para ser a primeira ou segundo a se confessar,
livrando-se mais cedo dos pecados, que no próximo mês se repetiam. O padre
ficava tanto tempo sentado ouvindo os cristãos que se levantava concorda de
tanta dor nas costas e dos pecados que ouvia.
Após a missa,
corria-se de volta às casas.Já era hora de comer feijão com farinha e carne
seca. Nesta hora todas as casas fechavam as portas.Quem estivesse de fora só
sentia o cheiro da carne assada e do ovo frito. Após o almoço ia-se ao mercado
fazer a feira. A banca de Antônio Paca tinha doce, confeito, rapadura, cocada, mata
fome e biscoito de polvilho para as crianças que possuíam dinheiro. Para
àquelas que não sobravam algumas moedas, só restava a tristeza, que,
ocasionalmente era quebrada por mais velho que sabia quanto doía no coração de
uma criança não poder comer uma cocada na feira.
Já fora do
mercado, podiam-se comprar panelas de barro com seu Gracindo, cortava-se o
cabelo com Zé Manoel ou com seu Amaro, com seu Enéias. Podia-se vender algodão
a Zé Pereira, seu Dozinho Bernardo ou a seu Luiz Amaro de Toritama. Do brejo
vinham as frutas das mais variadas espécies. As mais cheirosas eram as jacas e
as bananas. Concorriam com a barraca de miudezas e com o vendedor de pentes,
espelhos e perfumes de todos os aromas.
Terminada a
feira, com os trocos que sobravam engraxava-se os sapatos com Antônio Teca e aos
mais ricos permitia-se o luxo comprar umas selas ou arreios de seu Graçu ou de
seu Deda Clemente ou umas alpercatas com seu João da Luz.
Por fim,
podia-se assistir à cena do soldado Zé Antônio prendendo os que ficavam bêbados
ao final do dia e assim de lembrança em lembrança foi-se o tempo que não volta
mais e Gravatá do Ibiapina, lá assistindo, parado, chorando de saudades
daqueles que não estão mais com a gente.
Por:Antônio
Martins de Farias