Antigamente a gente, em Serra dos Bois, costumava ficar ouvindo as pessoas mais velhas, contando estórias ou casos até altas horas da noite. Com a luz do candeeiro, tínhamos mais tempo. Hoje, com luz elétrica, as pessoas correm para suas casas, fecham as portas e só saem para o trabalho ou para a igreja. E, pasmem, todos andamos com medo. Marcamos um terço, um ofício, na igreja, e corremos para casa quando termina a oração. Sem se despedir um do outro, na maioria das vezes.
Não conversamos mais. Tem momentos que me sinto um estranho, pois não consigo, conversar mais do que cinco minutos com as pessoas. Elas, demonstram que não têm tempo para perder. Umas alegam muito trabalho, outras correm para os seus telefones celulares, pois mensagens que não dizem quase nada são mais importantes do que uma conversa, sem rumo.
Sem rumo para àqueles que não tiveram a oportunidade de aprender com os mais velhos. Como era rico presenciar meu pai, sempre rodeado de amigos, ouvindo e contando seus casos. Padrinho Geraldo, Arnóbio, Luiz França, Chico Aleixo, Aleixo Joaquim, João e Manoel, Pedro Lino, Zé Ananias, Tio Floro, Tia Zefinha, Tia Lina, Tia Francisca. Só mencionei os que já se encontram na Eternidade, pois os que estão vivos, a gente pode ainda conversar e ouvi-los.
As pessoas mais velhas ou idosas não tiveram escola oficial, mas a vida lhes ofereceu muito saber. Saber este que perdemos. Acabou-se o princípio da oralidade de Serra dos Bois. Princípio este que transmitia o saber de uma geração para outra.
O Zap, sem conteúdo nenhum, cujos textos são sem conceito, gerando o preconceito sobre tudo ou quase tudo, é que ocupa as pessoas, hoje em dia. Não sou contra a tecnologia, mas assim como a filosofia que não cuida da vida, é vazia, a tecnologia que não respeita a vida é também vazia e sem conteúdo.
Antonio Martins de Farias.